Adult Education in Florianopolis - FEJAFLORIPA
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29/11/2011

Perspectiva democrática e Educação

"Partindo de uma perspectiva democrática, a educação é um direito apenas quando existe um conjunto de instituições públicas que garantam a concretização e a materialização de tal direito. Defender "direitos" esquecendo-se de defender e ampliar as condições materiais que os asseguram é pouco menos que um exercício de cinismo."

Pablo Gentili. Adeus à Escola Pública - A Desordem Neoliberal, a Violência do Mercado e o Destino da Educação das Maiorias, In. Pedagogia da Exclusão - crítica ao neoliberalismo em Educação. Editora Vozes, 1996, p.247.

22/11/2011

Resistir, denunciar e se unir - uma carta ao vento que nos encontra!

É uma lástima.

O Ensino Fundamental (EF) e a Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis (SME) estão atualmente praticamente obrigando que todas as unidades educativas de EF e de Ensino Infantil tenham Conselhos Escolares para assegurar uma gestão democrática que inclui professores, comunidade escolar e estudantes na discussão de seus projetos, enquanto isto para a EJA de 2012 seus gestores fazem autoritariamente um “novo plano de curso” (NPC) de cima para baixo a partir de um “pequeno grupo” de pessoas convidadas já que não se obteve apoio da maioria dos coordenadores e professores atuais. Para tanta pretensão, a atual gestão da Diretoria de Ensino Fundamental (DEF) se apropriou da inexperiência inicial não só de um jovem bom moço, mas de 70% de todos os professores de II segmento que nunca haviam trabalhado na EJA de Florianópolis antes de 2011. Estrategicamente, ao mesmo tempo em que se ganhava tempo, tentando apresentar uma postura democrática por parte da DEF, se produzia desunião entre coordenadores e professores através de cooptação e da necessária “fidelidade ao chefe”.

São muitas as inconsistências, incoerências, incongruências e contradições neste processo.

O Ensino Fundamental da SME faz um programa intitulado como TOPAS (Todos podem aprender sempre) com um professor chamado de articulador e mais professor de área para lidar com adolescentes. Ou seja, dois professores atuando com estudantes em defasagem série-idade, como um programa de aceleração. Para a EJA, o “novo plano de curso” se estrutura com apenas um professor em sala. Juntos, com apenas um professor, adolescentes de 15 a 17 anos, jovens trabalhadores de 18 a 29 anos, adultos chefes de família de 30 a 59 anos e idosos acima de 60 anos (quatro faixas etárias bem distintas).

Enquanto no Ensino Fundamental, o professor é lotado por unidade escolar, o que equivale à apenas uma localidade, na EJA o mesmo professor, qualquer que seja a sua carga horária, em função dos núcleos atenderem em várias escolas, vai ser obrigado a aceitar trabalhar por várias localidades até se esgotarem as possibilidades de sua carga horária, sem condições de se aprofundar nas questões de vínculo e de especificidades educacionais, em um difícil terceiro turno noturnamente violento.

Enquanto que no Ensino Fundamental, com a maioria de professores efetivos, esta manobra é difícil de implantar, na EJA, não estão se preocupando com as reações. Na EJA, a absurda maioria, de mais de 95% de professores contratados temporariamente (ACT) que se renova a cada ano, não tem escolha. Pesquisa demonstra que 70% dos professores do II segmento de 2011 inscritos no EDUCACENSO deste mesmo ano não trabalharam na EJA de Floripa anteriormente. Em 2012, vai ser a mesma coisa, vai ficar fácil convencer a quem nada sabe do processo anterior. E se não gostarem de trabalhar em várias localidades, isolados em suas salas, que peçam demissão (efetivo - remoção). Ou seja, “ou peguem ou larguem”. Mas a gestão sabe que isto não será possível acontecer, pois os professores substitutos precisam do emprego para sobreviver. Por isso não tem concurso público para a EJA e não porque ela vai acabar, pois com 75.000 eleitores sem E.F e 8.000 sem saber ler e escrever, com toda a migração que acontece diariamente para a capital, com as históricas precárias condições de vida da maioria da população brasileira e constatando a nossa ínfima capacidade de atuação material, este quadro não tem perspectivas de se alterar substancialmente.

É uma lástima.

Para os poucos professores efetivos na Eja, o que oferecem? Se quiserem ser coordenador é só “pedir ao chefe” e aceitar o “novo plano de curso” sem reclamar. Ainda, como ação proposta pelo “NPC”, como incentivo e gratificação, os coordenadores vão ganhar dinheiro a mais no salário para isto (diretores das unidades escolares que abrirem EJA também vão receber). Vale lembrar que isto, nunca nenhum coordenador de núcleo recebeu em toda a sua vida de militante (não que não fosse justo) na EJA de Florianópolis, e isto sendo agora feito só para conseguir adeptos e apoio ao “novo plano de curso” é revoltante.

O que mais oferecem aos professores efetivos? Podem fazer 24 horas-aula com os estudantes, não vão precisar completar as 28 horas. Que dádiva! Enquanto até agora, todos trabalham toda a sua carga horária com efetivo trabalho coletivo nos núcleos, para 2012, pelo “NPC”, vão bastar 24 horas-aula solitárias nas salas com estudantes de todas as faixas etárias, desde que trabalhem em todos os lugares que se mandar.

É uma lástima.

E os conteúdos curriculares, o que se propõe no “NPC”? Uma adaptação do Ensino Fundamental, aqueles conteúdos para crianças que vivem as “escolas regulares”. A Educação Física vai ser ofertada em 2012 tendo, como uma de suas funções, que virar “disciplina tampão”, para que os demais professores possam planejar. Na lógica metodológica do “NPC” da EJA do Ensino Fundamental, saber responder, copiar e obedecer é bem melhor do que saber pensar, pesquisar e discutir de uma EJA que por vários anos vem se construindo a várias cabeças e sob condições insistentemente precárias, provisórias e muito severas.

E a grade escolar? O “NPC” enfim traz de volta a todos suas “caixinhas”. Lança-se um desafio, a quem quer que seja, de montar uma grade com a mesma estrutura do EF (número de aulas por disciplina por semana) para um núcleo funcionando apenas em um turno e com todos os seus professores contratados apenas por 20 horas semanais. Quem aceitar o desafio verá que é impossível, que não dá. Mas para a EJA parece que é apropriada. E ainda se ouve dizer, pelos críticos do atual processo pedagógico, que ter a pesquisa por problemática enquanto princípio educativo é proposta político-pedagógica “para pobre”. Pobres então devem ser todos aqueles que fazem pesquisa para se tornarem mestres, doutores e pós-doutores.

É uma lástima.

Infelizmente, temos que continuar denunciando as inconsistências, incoerências, incongruências e contradições da Diretoria de Ensino Fundamental da SME de Florianópolis na tentativa de implantar suas propostas de Plano de Curso autoritário, através de conteúdos disciplinares mínimos adaptados daqueles ofertados às crianças, com grades de horário precárias e fragmentadas, com distinções estruturais entre TOPAS e EJA, com professores provisórios e substituíveis etc.

Resistir, denunciar, e se unir. Estas são as palavras de ordem de uma EJA não submissa, não calada e que precisa de todos para fazê-la cada vez melhor.

17/11/2011

O FEJAFLORIPA participa do lançamento do II Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica

Lançamento do evento será em 29 de novembro na capital

 

No próximo ano, Florianópolis será a sede do II Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica. Com o tema Democratização, Emancipação e Sustentabilidade, o evento será realizado de 28 de maio a 1º de junho de 2012 e a expectativa é receber 10 mil pessoas. O lançamento oficial do Fórum está marcado para o dia 29 de novembro deste ano, no Centrosul, em Florianópolis.
A cerimônia de lançamento, marcada para as 16 horas, contará com a presença do secretário de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação, Eliezer Pacheco, além de autoridades nacionais, estaduais e locais. Os reitores e diretores-gerais de todos os institutos federais e centros federais de educação tecnológica do país também participarão do evento.
Para o secretário do MEC, Eliezer Pacheco, o fórum de 2012 será um importante espaço para discutir a educação profissional e tecnológica. “Em sua 2° edição, o evento é um momento privilegiado de reunião de especialistas, professores, técnicos e estudantes onde se busca trocar experiências e debater os rumos e a importância da educação profissional e tecnológica”, ressalta.
A cerimônia de lançamento do II Fórum marcará o início das inscrições para participantes do evento. As inscrições serão gratuitas e deverão ser feitas pela internet no site oficial do Fórum no endereço www.forumedutec.org.
Cerimônia
Durante a cerimônia de lançamento, serão lançadas duas publicações: o livro do Centenário da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica e o livro Institutos Federais – Uma Revolução na Educação Profissional e Tecnológica, do secretário do MEC, Eliezer Pacheco. O lançamento do II Fórum também contará com apresentações culturais.
Sobre o Fórum
O Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica é um fórum temático vinculado ao Fórum Mundial de Educação, um movimento pela cidadania e pelo direito universal à educação que busca levantar propostas para integrar a plataforma mundial de educação. Durante cinco dias, estudantes, professores, pesquisadores, trabalhadores, governos, sindicatos, associações e pessoas da sociedade civil de diversos países terão a missão de priorizar a educação na construção de um outro mundo possível.
A programação do evento contará com conferências, debates, oficinas, Mostra de Inovação Tecnológica, Mostra de Artes Visuais, Mostra de Pôsteres, Feira Gastronômica, Feira de Economia Solidária e Feira do Livro. Além de toda programação oficial, diversas atividades artísticas farão parte da programação cultural, terá grandes shows de abertura e encerramento.
Nesta segunda edição, quem comanda a organização do Fórum é o Instituto Federal de Santa Catarina (IF-SC). Além da instituição e de nosso fórum FEJAFLORIPA, outras 79 entidades também compõem o Comitê Organizador.
A primeira edição do Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica foi realizada em 2009, em Brasília. Com o tema Educação, Desenvolvimento e Inclusão, o evento reuniu 15 mil pessoas do Brasil e de 20 outros países dispostas a participar da discussão sobre formação do cidadão para o mundo do trabalho.
Mais informações do Fórum no site oficial do evento: www.forumedutec.org.
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SERVIÇO
O quê: Lançamento do II Fórum Mundial de Educação Profissional e TecnológicaQuando: 29 de novembro de 2011
Horário: 16 horasLocal: Centro de Convenções CentroSul – Florianópolis – Santa Catarina
Site do evento: www.forumedutec.org
Mais informações para a imprensa: jornalismo@ifsc.edu.br / (48) 3877 9007

 

09/11/2011

O que é uma escola justa?

Texto do sociólogo francês François Dubet, "O que é uma escola justa?" aborda importantes questões referentes à meritocracia e à igualdade de oportunidades tão presentes nos discursos neoliberais sobre o papel da escola republicana.


A seguir alguns trechos marcantes:

" [... uma meritocracia escolar justa não garante a
diminuição das desigualdades..."

"O modelo de igualdade de oportunidades meritocrático pressupõe, para ser
justo, uma oferta escolar perfeitamente igual e objetiva, ignorando as desigualdades
sociais dos alunos. Ora, todas as pesquisas mostram que a escola trata
menos bem os alunos menos favorecidos..."

" [...a escola meritocrática legitima as desigualdades
sociais."

O texto publicado no Cadernos de Pesquisa, v. 34, n. 123, set./dez. 2004 poderá ser conseguido em sua íntegra no site do FEJAFLORIPA:
O que é uma escola justa?"

Ressalto que este título é o mesmo de um livro do mesmo autor impresso pela Cortez Editora em 2008 que aborda a questão em termos de "igualdade meritocrática das oportunidades; igualdade distributiva das oportunidades; igualdade social das desigualdades e igualdade individual das oportunidades. (livro no acervo da Biblioteca da UFSC)

Vale a pena conferir.

“Cala a boca já morreu” ! Com a palavra, os professores

Texto encaminhado pelo prof. Moacir Zanin em seu email.

Maria Isabel de Almeida - Professora da Faculdade de Educação da USP.
“Mas o que há assim de tão perigoso por as pessoas falarem, 
qual o perigo dos discursos se multiplicarem indefinidamente? 
Onde é que está o perigo?”
Michel Foucault
A pergunta de Foucault é mais que procedente frente à situação vivida pelos professores das redes públicas de ensino, de quem é subtraído o direito de se pronunciar sobre o próprio trabalho. Com base no Estatuto dos Funcionários Públicos eles são proibidos de manifestarem publicamente suas opiniões a respeito de qualquer ato da Administração, por meio de entrevistas ou outros meios de divulgação.

Num franco desrespeito à Constituição, que garante a liberdade de expressão a todos os brasileiros, os professores não têm a possibilidade de exercitar o direito de crítica, de reflexão, de apreciação sobre o próprio trabalho e as circunstâncias que o delimitam.

O resultado dessa limitação “vinda de cima” é o silêncio! Mas que silêncio é esse? Onde está o perigo se os professores falarem sobre educação?

Não restam dúvidas de que esse silêncio é uma concepção de gestão da esfera pública que se sustenta em sanções e ameaças, que pairam sobre as cabeças docentes. Com isso o discurso dos professores sobre o seu fazer pedagógico está hoje preenchido de silêncio, o que evidencia o quanto eles não se sentem donos de suas ações. Cada dia mais lhes cabe executar diretrizes vindas de cima; implementar propostas que desconhecem; cumprir tarefas; focar a atenção em aspectos burocráticos em detrimento do estudo, da reflexão, da criatividade, do exercício da crítica. E ainda não lhes é permitido se pronunciarem publicamente a respeito do que estão realizando nas salas de aula ou mesmo sobre o que acontece na rede de ensino onde trabalham.

Falar sobre o ato de educar se faz indissociável do ato educador. Está associado à possibilidade e capacidade de problematizar e refletir sobre a própria ação docente e seus contextos. Expressa também relações de poder. Portanto, quando o poder instituído reserva aos professores apenas o espaço da ação e lhes nega o direito de formular sua própria proposta de trabalho e de expressar publicamente sua avaliação crítica sobre os modos e as condições que delimitam sua ação pedagógica, vem à tona o caráter autoritário dessas relações de poder.

Os professores não chegam prontos às escolas e nem permanecem nelas do mesmo modo ao longo de suas carreiras. Eles vão se construindo profissionalmente à medida que se relacionam com seus contextos de trabalho, com seus pares, com seus alunos, com as normas que delimitam sua profissão e sua atuação dentro dela. Portanto, as interferências e os atravessamentos dos órgãos coordenadores dos sistemas de ensino vão moldando os professores e têm enorme responsabilidade pela ausência da sua fala a respeito do trabalho realizado nas escolas.

Mas, além dos impedimentos formais, um outro lado desse silêncio o torna ainda mais grave. Trata-se dos efeitos decorrentes do modo como os professores vêm sendo considerados pelas políticas educacionais contemporâneas. As atitudes dos gestores dos nossos sistemas de ensino têm se pautado pela desqualificação dos professores
A desqualificação do trabalho
As sucessivas mudanças introduzidas na organização e nos conteúdos da prática educativa trazem uma concepção a respeito do lugar e do papel dos professores no cenário educativo. Na medida em que lhes rouba a possibilidade de avaliarem e reorientarem o trabalho que realizam, impedem os professores de dizerem, com voz própria, como configuram e reconfiguram “os modos de ser professor” na escola pública contemporânea e de assumirem papel ativo na defesa do ensino. 

Como a educação é um trabalho que se desenvolve entre humanos, depende do modo como os sujeitos diretamente envolvidos decidem fazê-la acontecer. Assim, os professores são os responsáveis pela direção que imprimem ao trabalho em sala de aula, momento em que escolhem os modos como será realizada a tão necessária ação para inserir os alunos no mundo do conhecimento, para introduzi-los nos mais variados aspectos da cultura, para possibilitar que cada indivíduo integre-se à humanidade. Um trabalho dessa natureza requer capacidade de julgar o que precisa ser feito, o que é possível fazer e como fazê-lo nas condições concretas em que se desenvolve na sala de aula.

Portanto, ao invés de amordaçar os professores e investir contra a autonomia docente, os gestores prestariam maior contribuição à melhora da escola pública se apoiassem o seu desenvolvimento profissional, fortalecendo seus vínculos com a escola, os alunos, a profissão. Isso significaria organizar o sistema e as escolas para que ofereçam possibilidade de estudo e experimentação pedagógica voltadas para a atualização constante das referências ou bases político-pedagógicas que sustentam os modos de atuação docente.
Sônia Kramer diz que “ser autor significa dizer a própria palavra, cunhar nela sua marca pessoal e marcar-se a si e aos outros pela palavra dita, gritada, sonhada, grafada... Ser autor significa resgatar a possibilidade de “ser humano”, de agir coletivamente pelo que caracteriza e distingue os homens... Ser autor significa produzir com e para o outro...”.

Para serem autores do seu discurso os professores precisam construir mecanismos interiores que lhes permitam articular sua prática de modo coerente, não só com seus valores pessoais, mas também com os valores e necessidades construídas socialmente; precisam ter um domínio profundo do campo do conhecimento que irão ensinar, dos modos de ensiná-lo e dos alunos reais com quem irão trabalhar; precisam ter condições intelectuais e materiais para analisar individual e coletivamente o trabalho realizado; precisam ter recursos materiais e condições de espaço e tempo que permitam atender seus alunos de modos diferenciados e conduzi-los à aprendizagem efetiva; precisam também de reconhecimento e valorização profissional.

Estamos falando dos múltiplos aspectos que estão sendo, ano pós ano, subtraídos dos professores: formação de qualidade, condições adequadas de trabalho e valorização profissional.
Autoria do professor
Na medida em que esses aspectos estão sendo roubados dos professores, não só a possibilidade de falarem sobre o trabalho educativo, mas a própria possibilidade de serem autores de seu projeto de trabalho, das propostas que orientam a vida da sua escola está sendo igualmente subtraída. Também lhes está sendo roubada a idéia de pertencimento a uma categoria profissional, que deveria ser cada vez mais essencial, já que há um amplo e forte consenso a respeito da importância da educação escolar no mundo atual. Cada dia mais se esfacelam os vínculos entre os professores e a sociedade, bem como entre eles próprios.
Acabar com o silêncio dos professores requer mais do que lutar contra os cerceamentos formais à liberdade de expressão. Significa reorganizar a escola, as condições da docência e da formação dos professores. E para tanto a própria sociedade brasileira terá de se posicionar frente a uma importante questão: que educação quer para suas futuras gerações.
 

Email do Professor Moacir Zanin - EJA de Florianópolis

Florianópolis, 09 de novembro de 2011
Bom dia a todas(os)!
          Nesta noite de terça-feira em alguns núcleos de EJA da Rede Municipal  de Educação de Florianópolis recebemos a visita solitária do chefe de departamento do Ensino Fundamental para anunciar entre "outras" novidades para o ano de 2012 a de que teremos uma cozinheira para fazer e servir a merenda aos educandos. 
          Quando da tentativa de questionamentos por parte de alunos e professores relativos às "outras" novidades, deixou claro que não era o espaço e horário para estas discussões, que não veio para isso e que poderíamos  fazê-lo em outros locais mas  não disse quais seriam estes espaços portanto julgo que este espaço não apresente impedimento para contrapor algumas de suas afirmações a seguir:
1- Que a rede precisa ter equidade na distribuição da carga horária de seus professores sejam eles da educação infantil, fundamental ou na modalidade de EJA.
    Desconsidera as especificidades de alunos jovens e adultos sendo que muitos são o produto da falta de equidade na distribuição de renda e oportunidades a eles oferecidos  cuja  educação da nossa rede como um todo está a serviço de reforçá-la quando trata a todos em formato único. Este argumento da equidade não visa o sujeito aluno, seja ele da educação infantil ou de EJA e sim equacionar "inverídicas" distorções que resolve o problema de quem afinal?
2- Se consultados, 90% dos alunos não estariam satisfeitos com a pesquisa como princípio educativo e ou com sua metodologia. 
    Não concordo com o número(90%) mas concordo em partes com o argumento pois quando o aluno é confrontado seriamente com as demandas de um processo de pesquisa exige-se dele uma postura que o faz pensar e o faz agir numa proposição ativa, diferentemente da proposição passiva em que o aluno se acomoda em receber pseudo-conhecimentos de forma pronta acabada e de fácil memorização instantânea para reverberação ao professor com data e hora marcada, grande parte das vezes conhecimentos desconexos de qualquer realidade proximal de conhecimento dos alunos e por vezes até do professor. Pensar e agir por si  não é tão simples como ter alguém que pense e determine como devamos agir. Soma-se a isso o fato de que todo um sistema desde o nosso nascimento nos diz a cada momento o que é certo e o que é errado, o que é importante  e o que não deve ser considerado de relativa importância, sem nos permitir margens de reflexão e de proposição ao contraditório. Cansei de encontrar pessoas, alunos ou não, que dizem querer aprender a fazer contas matemáticas, operações básicas, etc. e quando os questiono o porquê deste interesse eles geralmente respondem que é preciso saber matemática, que é importante na vida saber matemática mesmo que alguns admitam que dela não necessitam tanto, preferem a satisfação imediata de um acerto no resultado de um algoritmo à leitura interpretativa de um texto composto por dados estatísticos que possibilitem sua inferência nas possíveis conclusões. Seria  um  status proveniente de um "poder" aferido ao simples domínio do cálculo? O que seria hoje mais pertinente às habilidades de muitos dos nossos alunos, dominar o cálculo de índices pluviométricos, da vazão dos rios, da capacidade de absorção de água pelo solo tão somente ou aprender o processo de independência  na escolha de seus representantes conjugado  com ações possíveis e cabíveis na proposição e cobrança de comportamentos  que viabilizem moradias seguras e a salvo das ações de enchentes e tempestades? mesmo que uma não exclua a outra sempre existirá prioridades e que obviamente não serão as mesmas para todos, para quem mora no morro ou para quem mora no apartamento seguro do condomínio de luxo.
3- Não há continuidade dos professores de um ano para outro nos núcleos  porque não se justifica efetivação na EJA visto  a mesma estar  em processo de redução de matrículas portanto com prazo para acabar. Cita a progressão continuada no ensino fundamental como uma das razões para se dar conta com eficiência dos alunos em sua idade série. 
    Enquanto houver diferenças econômicas-sociais não deixaremos de ter o produto dessas desigualdades, infelizmente.
4-Que a EJA não pode ser uma seita onde todos seguem a um pastor.
   No ano de 2005 em conversa com o atual chefe do departamento sondei a possibilidade de ser professor de EJA fato que se tornou possível em 2008 com a abertura de remoção com uma vaga por área de conhecimento. Querer atribuir a apenas uma pessoa (pastor) as críticas que se fazem às tentativas de retrocesso na política educacional na EJA é subestimar a inteligência e capacidade de um grupo expressivo de profissionais da educação. Grupo de profissionais este que na mesma fala citada foi seriamente depreciado frente aos alunos para exclusiva defesa de suas convicções, entre elas a de que há um elevado custo referente ao percebimento médio dos salários dos professores.

      No texto acima não há a inferência de nenhum guru, nem mesmo a verificação ortográfica de qualquer outro profissional portanto é passível de "erros" ou até incoerências de percepção,  mas é a prova de que a forma de trabalhar na EJA , a partir dos desacertos, nos possibilita e nos encoraja  a sermos de verdade autônomos  para sermos não só meros professores e sim modelos de perspectivas possíveis no caminho de mudanças tão necessárias à e para a população permanentemente excluída deste país.
    
NÃO É A EJA QUE TEM QUE MUDAR MUITO MENOS RETROCEDER, SÃO AS DEMAIS MODALIDADES DE ENSINO QUE DEVEM REPENSAR SUAS PRÁTICAS. NÃO TEMOS QUE ADAPTAR AS PRÁTICAS AOS RECURSOS E SIM OS RECURSOS ÀS PRÁTICAS.
10% DO PIB POR QUE NÃO?   

POR FIM . CONCORDO QUE A PRÁTICA ATUAL POSSA E DEVA SER APERFEIÇOADA, MAS SEM REDUÇÃO DE CARGA HORÁRIA DOS PROFESSORES E PARA ALÉM DO PRINCÍPIO EDUCATIVO  ATRAVÉS DA PESQUISA. COM A PARTICIPAÇÃO QUE PRECONIZA TODOS OS DOCUMENTOS ORIENTADORES DA GESTÃO PÚBLICA. AFINAL COMO PODE UM PROFESSOR TRABALHAR A "MISSÃO " DA SUA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO SE LHE É PROIBIDO MANIFESTAR-SE ATÉ NOS "LOCAIS DITOS APROPRIADOS" SOBRE OS RUMOS DA EDUCAÇÃO.?

APROVEITO PARA ANEXAR UM TEXTO MUITO PERTINENTE AO ATUAL E AO QUE ME PARECE PERMANENTE (3 FINAIS DE ANOS REPETITIVOS) MOMENTO DA EJA DE FLORIANÓPOLIS. (segue na próxima postagem)

06/11/2011

Por onde caminha o Currículo desenvolvido pela EJA de Florianópolis?


Quinta-feira, dia 03 de novembro de 2011, realizou-se um encontro de formação ministrado pela professora da UFSC Maria Herminia Lage Fernandes Laffin com os professores da EJA de Florianópolis em que foram debatidas várias questões sobre o currículo na EJA de Florianópolis.

Na oportunidade a professora analisou, a partir de seu ponto de vista e interesse, um texto do professor José Manoel Cruz Pereira Nunes apresentado, em 2008, no IV Colóquio Luso-Brasileiro sobre Questões Curriculares que pode ser encontrado na íntegra no link a seguir http://fejafloripa.org.br/curriculo_emergente.pdf Outros textos do mesmo autor sobre currículo podem ser encontrados na página do sítio do FEJAFLORIPA: http://fejafloripa.org.br/textos.html
Embora não estando presente, o autor do texto considera que se estudar o que têm produzido aqueles que têm vivido a prática e refletido na teoria o processo da EJA em questão é um passo importante para a evolução do trabalho na EJA de Florianópolis.
Portanto, propõe-se que para uma próxima formação na EJA de Florianópolis se convide os autores a participarem nestes debates, pois tem-se o conhecimento que o debate e o conflito são poderosos instrumentos de conhecimento e emancipação.
A seguir, apenas para facilitar àqueles que não possam acessar ao texto completo, transcreve-se as ressalvas realizadas pelo autor como introdução para suas "análises parciais, considerações finais" de seu trabalho sobre os caminhos do currículo na EJA de Florianópolis no período 2001-2007. (grifo nosso). Sem apresentar estas ressalvas, o autor acreditava que o contexto de suas análises poderia ser precariamente apreendido.
" Por onde caminha o Currículo desenvolvido pela EJA de Florianópolis?Pergunta central deste trabalho. O que se pode inferir a partir das análises dos dados coletados?
Antes, porém, deve-se apresentar algumas ressalvas de modo a facilitar a compreensão geral dos resultados. Que ressalvas são estas? Primeiramente, que não há um padrão correto ou esperado na relação das pesquisas realizadas com a categorização dos Temas Transversais dos PCN. Ou seja, não se procura atingir um X número de pesquisas de tal Tema, Y de outro Tema e assim por diante. Os Temas são partes da Vida das Pessoas e é sobre a Vida destas Pessoas que se está tratando ao se desenvolver Currículo na EJA de Florianópolis. Na mesma forma concebida para os conteúdos, os Temas Transversais são meio e não fim. Segundo, a comparação dos resultados de um mesmo núcleo durante o período perde consistência em função da grande variação anual de profissionais, professores e coordenadores. Noventa e cinco por cento dos profissionais que atuam na EJA de Florianópolis são contratados através de concurso e por tempo determinado, sempre inferior a um ano. A porcentagem de retorno destes profissionais de um ano para o outro está na faixa de sessenta por cento. Terceiro, o Currículo da EJA não pode ser avaliado simplesmente em função dos enunciados das perguntas. Como detalhado de forma simplificada, um ciclo de pesquisas tem etapas que incorporam conteúdos dos mais diversos, sem prioridade entre conteúdos conceituais (fatos, conceitos e princípios), procedimentais ou atitudinais. A opção por analisar a partir dos enunciados é válida para se ter uma idéia e não para se produzir uma definição rigorosa. Esta definição poderá ser mais ou menos completa a medida que se incorpore na análise mais etapas e instrumentos aplicadas aos ciclos de pesquisa. Exemplificando é o caso de se destacar a importância dos Mapas Conceituais. Em quarto lugar, não menos importante, tem-se a proposta de desenvolvimento do Currículo como emergente e rizomático, que implica na possibilidade de se produzir conexões, encontros, atividades que contemplem necessidades diagnosticadas ao decorrer do ano letivo no processo educativo. Seja através das pesquisas, por conta da produção dos mapas conceituais, seja pela realização de outras ações, em função de um planejamento coletivo estes interesses e necessidades podem ser viabilizadas.
Tendo em mente estas ressalvas, é possível produzir algumas considerações a partir dos resultados identificados. "