Adult Education in Florianopolis - FEJAFLORIPA
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07/09/2011

POR QUE NÃO ASSINAR O ABAIXO-ASSINADO DA EJA?


Nesses quatro dias que se passaram, ouvi e li vários argumentos para não assinar o ABAIXO-ASSINADO reivindicando concurso para contratação de modo permanente professores e auxiliares na EJA de Florianópolis. Este email pretende apresentar minha opinião sobre eles e espera-se também que outros sujeitos da EJA se incorporem a essa discussão para muito além do virtual.

Os argumentos foram os seguintes:

1) Não assino porque não concordo que os auxiliares estejam incluídos, deveria ser uma abaixo-assinado apenas para a contratação de professores. Não se sentiram representados nesse quesito;
2) Não assino porque o momento atual na EJA de Florianópolis pede diálogo, negociação e não embate;
3) Não assino porque ter sempre professores temporários é melhor que ter sempre professores efetivos;
4) Não assino porque não precisa de contratar pessoal efetivo porque a EJA vai acabar;
5) Não assino porque a EJA nem devia existir;
6) Outras razões - não assino por motivos pessoais; não assino porque não concordo com a contratação de efetivos; não assino porque apoio este governo; não assino porque não conheço nada sobre EJA; não assino porque não quero.

Respeitando todos os argumentos, apresento, a seguir, minha opinião (OP).

OP. 1)  Eu pergunto: Por que não incluir os auxiliares? Vão contratar mais professores do que um por área para fazer os diversos serviços necessários em uma unidade educativa? Se forem contratar mais professores, eu concordo. Mas, companheiros, o governo nunca contratou e nem vai contratar mais professores para fazer trabalho que não seja os considerados como de professor.
E eu pergunto: A EJA de Florianópolis consegue funcionar sem auxiliares? A não ser que não se precise manter abertas salas informatizadas, bibliotecas, que não precise se atender ao público em geral que aparece a toda hora solicitando informações, desejando se inscrever. Quem fará o serviço de secretaria, de xerox, tudo isto e muito mais? Respondem-me - os professores. E eu contra-argumento, COMO? Se o grupo docente está dividido, se os professores estão espalhados atendendo turmas em várias localidades, se deveriam estar nas salas trabalhando com a aprendizagem dos estudantes.
Ou será que é o coordenador de núcleo que terá (como o faz) de fazer tudo isto, se dividir em partes, se multiplicar como super-herói? Como fazer tudo isto em um núcleo de EJA que atende duas, três localidades? Mesmo em uma localidade apenas já é impossível, imaginem em mais de uma.
Se, então, os auxiliares são fundamentais porque vamos abrir um caminho de separação entre nós, dentro do nosso próprio corpo docente? A quem interessa nos dividir enquanto classe de trabalhadores da educação? À EJA de qualidade, com ceteza não interessa.
Portanto, a reivindicação por contratação efetiva deve ser para todos e não apenas para professores.

OP. 2) O momento sempre é de diálogo e de negociação, nunca quisemos embate e nem vamos querer. Quem é que fala de embate é que parece que está se embatendo contra alguém, alguma coisa, ou contra o que não quer. O que se quer e se pede é EJA, é Educação, de qualidade para todos os incluídos e excluídos no sistema educacional.
Por que não merecemos pelo menos igualdade de condições de trabalho ao que existe hoje no Ensino Fundamental e na Educaçao Infantil? Por que? Não que lá esteja às mil maravilhas, mas, com certeza, vivem sob condições bem mais dignas de trabalho.
O FEJAFLORIPA não quer embate. Está disposto, como explícito em seus objetivos estatutários, à colaborar com os governos. Mas não pensamos que colaborar é ficar esperando por boa vontade de governantes. Já dizia o velho refrão: "QUEM SABE FAZ A HORA NÃO ESPERA ACONTECER". Por que AGORA querem mostrar que dialogam? Quem dialoga com quem? Como já dizia uma querida amiga "MI PÓPA, MI ERRA".
Precisamos impor ritmo acelerado às decisões políticas porque ano que vem tem eleições municipais. Se não houver concurso para logo e os sujeitos não forem contratados em tempo hábil, perdeu-se o ano de 2012, vai ficar para 2013. Eles, as pessoas do atual governo, sabem disto e jogam com o tempo, nós contra o tempo. Para 'eles' ficar discutindo agora, com todos, o que não tem mais motivo para discussão, é trazer democracia para quando lhes interessa.

OP. 3) A idéia que professores enquanto temporários são melhores que efetivos tem uma lógica que deve ser atacada em duas frentes. Uma, na raiz, e outra, na aparência.

Na raiz: não existe teoria que sustente a rotatividade de trabalhadores quando o que se pede na função é trabalho especializado com formação inicial sólida e formação continuada em serviço sistemática e eficiente. A grande maioria dos atuais professores da EJA não tiveram formação inicial específica em EJA (disciplinas e conteúdos suficientes e necessários à função nos Institutos de Ensino Superior - IES). Trabalhar com EJA não é reproduzir nem adaptar o Ensino Fundamental ou Médio com crianças e pré-adolescentes para os estudantes jovens, adultos e idosos. Isto é fácil de se compreender (quando se quer), e não vou precisar ficar explicando sobre isso.
Não existe teoria educacional que considere a insegurança profissional como um de seus pilares de sustentação. O professor temporário sabe que logo vai ter que fazer novo concurso e todo seu esforço, dedicação e experiência não contam em nada para ajudá-lo. Como estas condições afetam a mente e o corpo social deste sujeito? Para melhorar a qualidade da Educação, não melhoram em nada.
Mas esta falta de formação, rotatividade, insegurança e temporariedade interessam a quem? A que modelo de sistema? A que lógica?

Na aparência: o argumento é de que ao se contratar professores temporários com boas possibilidades de não terem experiência em EJA nem de estarem "viciados" pelo modo de atuar no "Ensino Tradicional", pode-se estar criando um ambiente mais propício para se instaurar (ou "se impor") uma outra forma filosófico-metodológica de se lidar com a Educação. Ou ainda, se efetivarmos professores que têm o "ranço" do "Ensino Tradicional" e o equilíbrio da balança passar a pesar mais para o "Ensino Tradicional", a proposta da EJA de Florianópolis, de trabalhar com a Pesquisa como Princípio Educativo, corre um real risco de se perder.
Para mim estas questões são possibilidades reais, mas não justificam, de modo algum, a não contratação de docentes e auxiliares efetivos. A crise na Educação, pelos aspectos da modernidade, pela hegemonia da lógica do capital, é sentido por todos. Resolver problemas mundiais, embora considerada uma postura utopista, faz parte, sim, dos ideários do campo educacional, ou pelo menos, de alguns setores nesse e em outros campos da vida.
Nesse sentido, se for a questão de se adotar esse ou outro projeto político-pedagógico, esse movimento deve-se realizar em bases dignas e igualitárias de condições e não em um desequilíbrio de forças como o que está posto na EJA atual composta por maioria de docentes temporários e com uma minoria de efetivos que "parece" disputar entre si e com o poder instituído as decisões hegemônicas para a EJA.

OP. 4) A EJA não vai acabar. Pode acontecer de diminuir a demanda por escolarização mas a EJA não é apenas escolarização. A EJA é Educação de Jovens, Adultos e Idosos em suas necessidades de atuação no mundo em todas as ordens e dimensões. A EJA se faz necessária para comprender melhor este mundo e assim produzir a existência de forma digna. A EJA se faz necessária para refletir os caminhos que percorrem a humanidade e propor outros que digam respeito ao planeta como um todo e onde a humanidade tem papel fundamental.
O resultado alardado sobre a redução do índice de "analfabetos" em Florianópolis deve ser analisado na relação com o aumento da população e a migração de pessoas com alguma escolaridade para "tentar vida nova" na cidade de Florianópolis. O atual índice ainda mostra a cidade com mais de 8.000 pessoas sem saber ler e escrever e mostra ainda que em dez anos o que se conseguiu alfabetizar não chegou a 2.000 pessoas. E isto, se considerando, além da rede municipal, todo o esforço das organizaçãos não governamentais, igrejas, sindicatos, empresas e rede estadual de ensino.  Ainda é alto o percentual de eleitores sem Ensino Fundamental (em torno de 25%) e de Ensino Médio (aprox. 50%).
 A EJA enquanto escolarização de ensino fundamental e médio não tem horizonte próximo para acabar. A evasão embora em número percentual pequeno (aprox 1,0%) e as distorções série-idades vão a cada ano agregando novos contingentes de excluídos às demandas. E a migração para Florianópolis, um fenômeno sociológico que dificilmente está em vias de terminar, continuará trazendo novas fileiras de interessados em nossos cursos. É fácil constatar a alta presença de estudantes de outras cidades do país nas salas da EJA municipal.
Portanto, a EJA, mesmo em suas demandas por escolarização, não vai acabar tão cedo.

OP. 5) O argumento que a EJA não deveria nem existir é um dos argumentos mais difíceis de ser analisado e retrucado. Parece, à primeira vista, bem fraco, mas não é. Por que ter EJA? Se é para ensinar a todos o que é necessário ensinar porque uma outra modalidade de ensino? Por que não atender à toda a demanda no próprio Ensino Fundamental e Médio tradicionais?
Bastaria para isto ampliar, aperfeiçoando, o atendimento da Educação Básica de modo adequado a atender todos os que dela precisam e criando as condições necessárias para que se resolvam as situações específicas de entrave ao acesso e à permanência dos educandos.
Esse raciocínio é lógico, tenta entender e atender as especidades e necessidades dos educandos. Não saberia retrucá-lo em TESE. Mas ao analisar a conjuntura atual, histórica, percebe-se que isso nunca aconteceu e não existe indícios de movimento sistemático nesse sentido. Portanto, quem alega isso, pode ter razão em TESE, mas não se mostra em nenhum sentido atento aos efetivos movimentos sócio-históricos do país.

OP. 6) Como escrevi, ao início deste email, respeito os argumentos de cada um, e ainda devem existir vários que não foram abordados. Esses descritos no item 6, entram nesta minha consideração e não pretendo comentá-los. Portanto, se a pessoa não assina por motivos pessoais (interesses privados – medo de represálias - não tem nada a ver consigo); não assina porque não concorda com a contratação de efetivos (aumento do Estado); não assina porque apoia esse governo municipal; não assina porque não conhece o suficiente sobre EJA; não assina porque não quer etc, ela tem esse direito de decidir pela assinatura ou não do ABAIXO-ASSINADO, e não tenho competência nem desejo em julgá-la de modo algum.

Enfim, penso e espero que, com esse email, possa colaborar para esclarecer, um pouco mais, sobre a EJA e os motivos que me fazem trabalhar para que mais e mais pessoas compreendam o sentido e o significado de mostrar ao executivo municipal de Florianópolis que queremos muito este concurso, não porque queremos, mas por que este é uma necessidade imprescindível de dignidade humana e de elevação da qualidade da Educação de Jovens e Adultos e Idosos em Forianópolis.

Saudações solidárias.
José Manoel.Cruz Pereira Nunes
Presidente FEJAFLORIPA

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