Florianópolis, 09 de novembro de 2011
Bom dia a todas(os)!
Nesta noite de terça-feira em alguns núcleos de EJA da Rede Municipal de Educação de Florianópolis recebemos a visita solitária do chefe de departamento do Ensino Fundamental para anunciar entre "outras" novidades para o ano de 2012 a de que teremos uma cozinheira para fazer e servir a merenda aos educandos.
Quando da tentativa de questionamentos por parte de alunos e professores relativos às "outras" novidades, deixou claro que não era o espaço e horário para estas discussões, que não veio para isso e que poderíamos fazê-lo em outros locais mas não disse quais seriam estes espaços portanto julgo que este espaço não apresente impedimento para contrapor algumas de suas afirmações a seguir:
1- Que a rede precisa ter equidade na distribuição da carga horária de seus professores sejam eles da educação infantil, fundamental ou na modalidade de EJA.
Desconsidera as especificidades de alunos jovens e adultos sendo que muitos são o produto da falta de equidade na distribuição de renda e oportunidades a eles oferecidos cuja educação da nossa rede como um todo está a serviço de reforçá-la quando trata a todos em formato único. Este argumento da equidade não visa o sujeito aluno, seja ele da educação infantil ou de EJA e sim equacionar "inverídicas" distorções que resolve o problema de quem afinal?
2- Se consultados, 90% dos alunos não estariam satisfeitos com a pesquisa como princípio educativo e ou com sua metodologia.
Não concordo com o número(90%) mas concordo em partes com o argumento pois quando o aluno é confrontado seriamente com as demandas de um processo de pesquisa exige-se dele uma postura que o faz pensar e o faz agir numa proposição ativa, diferentemente da proposição passiva em que o aluno se acomoda em receber pseudo-conhecimentos de forma pronta acabada e de fácil memorização instantânea para reverberação ao professor com data e hora marcada, grande parte das vezes conhecimentos desconexos de qualquer realidade proximal de conhecimento dos alunos e por vezes até do professor. Pensar e agir por si não é tão simples como ter alguém que pense e determine como devamos agir. Soma-se a isso o fato de que todo um sistema desde o nosso nascimento nos diz a cada momento o que é certo e o que é errado, o que é importante e o que não deve ser considerado de relativa importância, sem nos permitir margens de reflexão e de proposição ao contraditório. Cansei de encontrar pessoas, alunos ou não, que dizem querer aprender a fazer contas matemáticas, operações básicas, etc. e quando os questiono o porquê deste interesse eles geralmente respondem que é preciso saber matemática, que é importante na vida saber matemática mesmo que alguns admitam que dela não necessitam tanto, preferem a satisfação imediata de um acerto no resultado de um algoritmo à leitura interpretativa de um texto composto por dados estatísticos que possibilitem sua inferência nas possíveis conclusões. Seria um status proveniente de um "poder" aferido ao simples domínio do cálculo? O que seria hoje mais pertinente às habilidades de muitos dos nossos alunos, dominar o cálculo de índices pluviométricos, da vazão dos rios, da capacidade de absorção de água pelo solo tão somente ou aprender o processo de independência na escolha de seus representantes conjugado com ações possíveis e cabíveis na proposição e cobrança de comportamentos que viabilizem moradias seguras e a salvo das ações de enchentes e tempestades? mesmo que uma não exclua a outra sempre existirá prioridades e que obviamente não serão as mesmas para todos, para quem mora no morro ou para quem mora no apartamento seguro do condomínio de luxo.
3- Não há continuidade dos professores de um ano para outro nos núcleos porque não se justifica efetivação na EJA visto a mesma estar em processo de redução de matrículas portanto com prazo para acabar. Cita a progressão continuada no ensino fundamental como uma das razões para se dar conta com eficiência dos alunos em sua idade série.
Enquanto houver diferenças econômicas-sociais não deixaremos de ter o produto dessas desigualdades, infelizmente.
4-Que a EJA não pode ser uma seita onde todos seguem a um pastor.
No ano de 2005 em conversa com o atual chefe do departamento sondei a possibilidade de ser professor de EJA fato que se tornou possível em 2008 com a abertura de remoção com uma vaga por área de conhecimento. Querer atribuir a apenas uma pessoa (pastor) as críticas que se fazem às tentativas de retrocesso na política educacional na EJA é subestimar a inteligência e capacidade de um grupo expressivo de profissionais da educação. Grupo de profissionais este que na mesma fala citada foi seriamente depreciado frente aos alunos para exclusiva defesa de suas convicções, entre elas a de que há um elevado custo referente ao percebimento médio dos salários dos professores.
No texto acima não há a inferência de nenhum guru, nem mesmo a verificação ortográfica de qualquer outro profissional portanto é passível de "erros" ou até incoerências de percepção, mas é a prova de que a forma de trabalhar na EJA , a partir dos desacertos, nos possibilita e nos encoraja a sermos de verdade autônomos para sermos não só meros professores e sim modelos de perspectivas possíveis no caminho de mudanças tão necessárias à e para a população permanentemente excluída deste país.
NÃO É A EJA QUE TEM QUE MUDAR MUITO MENOS RETROCEDER, SÃO AS DEMAIS MODALIDADES DE ENSINO QUE DEVEM REPENSAR SUAS PRÁTICAS. NÃO TEMOS QUE ADAPTAR AS PRÁTICAS AOS RECURSOS E SIM OS RECURSOS ÀS PRÁTICAS.
10% DO PIB POR QUE NÃO?
POR FIM . CONCORDO QUE A PRÁTICA ATUAL POSSA E DEVA SER APERFEIÇOADA, MAS SEM REDUÇÃO DE CARGA HORÁRIA DOS PROFESSORES E PARA ALÉM DO PRINCÍPIO EDUCATIVO ATRAVÉS DA PESQUISA. COM A PARTICIPAÇÃO QUE PRECONIZA TODOS OS DOCUMENTOS ORIENTADORES DA GESTÃO PÚBLICA. AFINAL COMO PODE UM PROFESSOR TRABALHAR A "MISSÃO " DA SUA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO SE LHE É PROIBIDO MANIFESTAR-SE ATÉ NOS "LOCAIS DITOS APROPRIADOS" SOBRE OS RUMOS DA EDUCAÇÃO.?
APROVEITO PARA ANEXAR UM TEXTO MUITO PERTINENTE AO ATUAL E AO QUE ME PARECE PERMANENTE (3 FINAIS DE ANOS REPETITIVOS) MOMENTO DA EJA DE FLORIANÓPOLIS. (segue na próxima postagem)
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