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27/05/2011

Polêmica sobre o livro didático da EJA de Florianópolis - Mais uma tentativa de manipulação da opinião pública - E você? Vai se deixar manipular tb?

Tem sido motivo de grande desconforto, tanto para a grande maioria dos professores de língua portuguesa quanto para os especialistas no assunto, a polêmica gerada em torno do livro didático distribuído pelo MEC – importante dizer que o mesmo é o livro utilizado pela EJA da Prefeitura de Florianópolis.



A polêmica poderia ter sido certamente evitada se a população de leitores da mídia brasileira tivesse o costume – e a preocupação - de verificar e levantar a veracidade das informações recebidas através da mídia. Ou então deveríamos todos parar de consumir alguns produtos em função de informações de cunho científico totalmente infundados as quais se tem notícia diariamente.



Um dos textos que fomentou a polêmica - ¨O projeto 'politicamente correto' de país¨, publicado no site do O Globo, traz colocações do tipo: ¨ A autora do desatino(livro didático), Heloísa Ramos, tem uma justificativa articulada para admitir, em livro a ser usado em sala de aula, erros toscos de concordância verbal. ¨



Verificando o livro, fonte da polêmica, qualquer pessoa minimamente alfabetizada constata que o texto que a gerou está muitíssimo equivocado em afirmar que o material contém ¨erros¨ de português, pois um dos exemplos citados – Nós pega o peixe – vem dentro do capítulo que trata de variação linguística, e retrata uma forma da linguagem coloquial, a qual todos os falantes da língua vernácula estão acostumados a usar, acredito que inclusive o próprio autor do texto.



O motivo do desconforto vai muito além do fato do completo desrespeito que envolve a polêmica, pois os geradores da mesma mostram-se completamente leigos no assunto, e em nenhum momento mostraram-se preocupados em inteirar-se ou pesquisar sobre o que escreveram – o que deveria ser priorizado por qualquer profissional, muito mais aqueles que lidam com a opinião pública – até mesmo para evitar absurdos, como dizer que a inclusão na educação especial não prevê profissionais aptos para atender os alunos.



Porém, as colocações feitas no dito texto trazem uma questão muito maior e mais preocupante, que desde sempre se tenta camuflar: a manipulação das informações feitas pela mídia para favorecer um ponto de vista, ou para macular a imagem de um governo que está no poder e tem ideais partidários distintos dos da classe dominante, que é, no caso, a ¨dona¨ da mídia. Para a imprensa brasileira, atitudes éticas como imparcialidade e subjetividade no discurso são completamente descartáveis em nome do irresistível poder da manipulação.



Isso demonstra a perversidade de um sistema, de uma sociedade, onde a educação durante décadas teve importância ínfima para os governantes, mesmo sendo o berço de pensadores renomados como Paulo Freire, que hoje é inclusive ironizado no dito texto, com a ¨criativa¨ citação "mitologia do excluído".



Realmente é muito pertinente tratar como mito a exclusão social em um país onde a política do ¨pão e circo¨ por tantos anos tentou calar a população, atraindo sua atenção para a trama de ¨novelas da vida real¨, que cumprem a função de alienar um povo com carências que vão muito além do social. Da mesma forma essa população também é calada quando convencida de que ¨não sabe nem falar¨, sua forma de expressão é ¨feia¨, errada, motivo de piada, chacoteada. Somente a fala da população de maior prestígio é que tem verdadeiro valor, por isso são somente eles que devem expressar-se.



¨A língua vale o que valem seus falantes¨ e é fator de exclusão social numa sociedade desigual e injusta, é o que também se tem aprendido nas aulas de língua portuguesa do século XXI.



Doa a quem doer, as próximas gerações estarão cientes e aptas a desconstruir o preconceito lingüístico e a desestruturar o sistema perverso que insiste em querer nos calar!



Quem tiver interesse em realmente inteirar-se sobre o tema, e não ser vítima da manipulação sugerida pela mídia, pode recorrer à opinião de quem realmente entende do assunto nos links a seguir:



http://maringa.odiario.com/maringa/noticia/420880/professora-da-uem-defende-livro-do-mec/



http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI5137669-EI8425,00-Aceitam+tudo.html



O texto ao qual faço referência na íntegra:



http://oglobo.globo.com/opiniao/mat/2011/05/18/o-projeto-politicamente-correto-de-pais-924489353.asp



Vamos fazer o papel de cidadãos conscientes buscando a fonte e inteirando-se sobre os assuntos que nos chegam através da mídia antes de sair vociferando bobagens por aí.



Jheniffer Crummenauer



Educadora de Língua Portuguesa da EJA Sul II e III - Tapera e Caiera da Barra do Sul



Pós-graduanda em Educação de Jovens e Adultos e Educação na Diversidade.

Um comentário:

Teacher Regina Seabra disse...

Colega Jhenifer,
Concordo plenamente com você! Acredito que uma das piores exclusões da humanidade é a que acontece pela fala. Não é por acaso que o acesso a educação foi negado por por tanto tempo no passado (exclusão esta que ainda hoje permanece)para homens e mulheres, trabalhadores e trabalhadoras que as elites sempre fizeram e fazem questão de ignorar. Tenho usado na EJA os livros em questão e li as concepções dos autores em relação ao aprendizado das línguas e a visão linguística que concebe as línguas como não estáticas e que possuem variantes sempre ditadas pelos falantes de uma determinada cultura, e eles estão corretíssimos nas suas afirmações!! As línguas existem para a comunicação humana! Cada grupo humano estabelece a sua maneira de melhor se comunicar, de falar; como exemplos temos tantas variantes: os dialetos dos guetos, dialetos de imigrantes, as gírias dos adolescente e jovens, as linguagens escritas dos chats na internet, etc. E devemos sim respeitar e considerar todas as variantes das línguas. O problema está na intolerância e ditadura de uma minoria representada pela elite que sempre se utilizou deste (e outros artifícios) artifício de discriminação para excluír a grande maioria da população pela fala e pela escrita.

Regina Helena Seabra
Educadora da EJA
Licenciada em Letras-Inglês